Sempre que tocamos a Natureza, nos purificamos. A vida natural é o solo nutritivo da alma. C. G. Jung

segunda-feira, 26 de setembro de 2016

Eu não sei desenhar...

Com frequência, as oficinas de Arteterapia são confundidas com aulas de arte, onde se valoriza estética visual, beleza, plasticidade. E então,  ouvimos das pessoas que participam: “eu não sei desenhar”, “parece desenho de criança”.  Mas, a Arteterapia é a linguagem da alma. Flaubert, em Madame Bovary, aponta que:

[...] a verdade é a plenitude da alma que pode às vezes transbordar na pura insipidez da linguagem, pois nenhum de nós pode jamais expressar a exata medida de suas necessidades ou de seus pensamentos ou de suas tristezas, e a fala humana é como um tambor rachado em que tamborilamos ritmos ásperos para os ursos dançarem [...]

Na Arteterapia, o que as palavras não traduzem emerge na atividade expressiva, que é a voz da alma, do coração.  As cores comunicam o estado de espírito, as texturas podem refletir inquietação, as imagens iluminam as áreas de sombra, as linhas traçam  caminhos de busca interior.  As oficinas acontecem em um ambiente sereno, capaz de propiciar o entendimento e a liberação das emoções.  

As vivências são como uma tomada de conhecimento, uma viagem ao inconsciente, a liberação do que está enclausurado, o início da cura. A casa da infância, por exemplo, desenhada com giz de cera, não tem a precisão de um projeto construtivo, ou a plasticidade de uma obra de arte. É, sim, um retrato da memória, das emoções e valores da época. Figura como símbolo das lacunas, da abundância, das alegrias e sofrimentos. E traz para o momento presente o encapsulado, que não foi ainda liberado.

A Arteterapia propicia uma pausa na ansiedade, no luto, no excesso de crítica e exigência. Estimula a complacência, o cuidado que relegamos,  o acolhimento das nossas próprias necessidades. Traz sensação de conexão, conforto, paz.

É de C. G. Jung a reflexão: “Na medida em que eu consegui traduzir as emoções em imagens, ou  seja, consegui encontrar as imagens escondidas nas emoções, eu me transportei interiormente  para um estado de calma e tranquilidade. Se eu tivesse deixado essas imagens escondidas nas emoções, eu poderia ter sido destruído por elas. Como resultado dos meus experimentos, eu aprendi como é importante, do ponto de vista terapêutico, encontrar essas imagens que se escondem por detrás das emoções.” (Memórias, Sonhos, Reflexões).
“Eu não sou o que aconteceu comigo, eu sou o que eu optei por me tornar.”

0 comentários :

Postar um comentário