Sempre que tocamos a Natureza, nos purificamos. A vida natural é o solo nutritivo da alma. C. G. Jung

terça-feira, 23 de agosto de 2016

Jung e a Natureza

A Psicologia Analítica, legado de Carl Gustav Jung, influenciou a cultura ocidental a partir do início do século XX. Mas a obra do médico inclui também rica contribuição especificamente em relação ao contato do homem com a Natureza. O psiquiatra suíço considerava a falta de contato com a Natureza um dos motivos do desequilíbrio psicológico das pessoas. Sempre que tocamos a Natureza nos purificamos, apontava ele, que considerava a vida natural como o solo nutritivo da alma.

Desde os anos 90, nos Estados Unidos e Europa, o movimento conhecido como ecotherapy tem possibilitado o entendimento e confirmado a teoria junguiana dos benefícios na interação homem/natureza.

Vários autores editam publicações sobre ações terapêuticas envolvendo o contato com a natureza. Dentre eles, destaco o historiador Theodore Roszak, Ph.D. (1933-2011), autor de Ecopsychology (1995); o psicólogo inglês Martin Jordan, Ph.D., autor de Nature and Therapy (2015) e coordenador do site ecotherapy.org.uk ; o livro Jung & Ecopsychology (2012), do entomologista e psicanalista junguiano Dennis L. Merritt, Ph.D.; e uma edição de 2009 da psicoterapeuta Linda Buzzell em parceria com o psicólogo Craig Chalquist, ambos da Califórnia, USA, com o inspirador título Ecotherapy – Healing with nature in mind. Todos esses títulos não foram ainda editados no Brasil.

Em 2008, a psicóloga Meredith Sabini, Ph.D., reuniu as menções que Jung fez em relação à Natureza em edição também não traduzida para o português: C. G. Jung - The earth has a soul.  Sabini, fundadora e diretora do The Dream Institute of NorthernCalifornia, situado em Berkeley, nos mostra um lado menos conhecido do psiquiatra suíço e expõe sua opção para os seus últimos anos de vida, em que redescobriu as forças espirituais da Natureza e vivenciou os encantos de uma vida simples. A seleção de publicações, discursos, seminários, entrevistas e cartas de Jung serviram como inspiração e base teórica para que este projeto adotasse a Arteterapia combinada à Natureza.

Na área de conhecimento da Natureza, da Paisagem, do mundo vegetal, destaco obras dos pensadores Thoreau (1995) e Emerson (2011), e seus ensinamentos que refletem questões próprias da atualidade. Temos no ensaio Natureza, originalmente escrito em 1836:

[...] Na mata, um homem também se desprende dos seus anos, como uma serpente de sua pele, e em qualquer etapa de sua vida é sempre um menino. Na mata está a perpétua juventude. Na mata retornamos à razão e à fé. Ali sinto que nada haverá de acontecer-me na vida – nenhuma desgraça, nenhuma calamidade (...) sem que a natureza o possa curar. De pé sobre a terra nua (...) nada sou: tudo vejo; as correntes do Ser Universal me circulam; sou uma porção de Deus. (...) Nos lugares silvestres, encontro algo mais caro e próximo a mim do que nas ruas e povoados (EMERSON, 2011, p.17.).

Thoreau, considerado discípulo de Emerson, viveu por dois anos (1845-47) em uma cabana construída por ele próprio, na propriedade que o filósofo possuía às margens do Lago Walden. Em sua obra principal, Walden; ou A vida nos bosques encontramos:

Nos dias de hoje neste país, conforme julgo por  experiência pessoal, uns poucos utensílios, uma faca, uma enxada, uma pá, um carrinho de mão, etc., e para o estudioso, lâmpada, artigos de papelaria e acesso a alguns livros, bastam como coisas necessárias e podem ser comprados por uma ninharia. THOREAU, 1985, p.26

Um século depois, vivendo sozinho em Bollingen, junto ao Lago Zurique, sem energia elétrica, cozinhando em um fogão a lenha, Jung indicava  usar o mínimo de aparatos tecnológicos; ter um pedaço de terra para trabalhar; deixar a natureza nos afetar; viver como uma planta que sempre se renova e que vive do seu rizoma.

Em carta escrita em 1958, Jung se refere à ideia antiga de que cada lugar ou pessoa tem o seu anjo particular, do mesmo modo que a terra tem alma. Jung relacionava as palavras alma, psique e espírito: psique em grego significa alma, vida e respiração, assim, psique é a própria Natureza. Em seminário do início dos anos 30, Jung apontou que a terra tem o seu próprio espírito, a sua própria beleza. Também em carta datada de 1947, escrita a um colega, Jung mostra a seriedade com que considera a Natureza. E pergunta: por que não entrar em uma floresta, literalmente, por um tempo? Às vezes uma árvore pode dizer mais do que está escrito nos livros. No período vivido em Bollingen, Jung escreveu: A nossa tarefa não é retornar à Natureza, ao estilo de Rousseau, mas sim encontrar novamente o homem natural.



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